12 Meses na Estrada

Pensamentos sobre a jornada por 20 países de Ásia e Europa, entre abril de 2018 e abril de 2019.

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Nossas vidas

estão sempre atreladas àquilo que estamos habituados a fazer. A rotina de acordar cedo, pegar ônibus ou carro e ir ao trabalho, pagar as contas, ver TV depois de um dia exaustivo que parece não construir muita coisa dentro de nós.

Além disso, estamos muito acostumados a nos definirmos apenas por motivações sociais, e não pessoais. Por exemplo, posso me apresentar como Bruno, geólogo. Ou, Bruno, fotógrafo. Mas essa palavra basta para me definir por inteiro? E se, por algum motivo eu decidir interromper uma carreira como geólogo ou como fotógrafo, como fica minha própria definição?

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Era pra ser assim? Eu humildemente acho que não! A vida não pode ser só essa rotina repetitiva em que nos enfiamos - ou fomos enfiados -, e sendo definidos por algum tipo de função que exercemos. Acredito que todos temos a possibilidade de nos desprendermos, e após uma pequena viagem para dentro de nós, conseguirmos nos encontrar como seres humanos.

Então ajuda muito sair da vida como estamos acostumados, e partir para algum tipo de jornada. E tem coisa mais literal do que largar tudo para sair numa viagem longa para o outro lado do mundo, e de lá para mais outros tantos lugares?

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Uma viagem mais longa que uma “simples” viagem de férias costuma ser o sonho de muita gente. Claro, passar meses longe do chefe, de preocupações tão mundanas, vendo lugares diferentes e conhecendo pessoas maravilhosas, que coisa boa!

Obviamente, tirar um período sabático só para fins de passeio em lugares bacanas é uma experiência válida e um grande privilégio. Mas a ideia é não apenas passear, mas também desapegar de hábitos antigos e ingressar em uma jornada que nos abra para diferentes modos de pensar, de ver o mundo, para que, no fim das contas, consigamos olhar para dentro e nos desvendarmos fora daquilo que estamos acostumados a parecer para a sociedade.

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Para essa viagem de um ano pela Ásia e pela Europa, eu e minha inseparável companheira Fernanda (@fematsu) não fomos com rios de dinheiro, então tivemos que nos acostumar a um orçamento apertado e muito controlado. E não é que deu certo? Acabamos nos acostumando a uma vida muito mais simples, onde o que importa é o essencial. E a riqueza foi poder ter experiências que não teríamos estando em casa. Passamos muito calor, frio extremo, comemos comida boa, comida ruim, conhecemos pessoas maravilhosas, outras não tanto, vimos riqueza, vimos pobreza, fomos para lugares lindos, outros horríveis, vimos jeitos muito diferentes de se relacionar com as pessoas ao redor e jeitos muito diferentes de encarar a realidade ao redor. Como as culturas são diferentes!

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Agora, no retorno ao nosso “lar doce lar”, vem um novo desafio. Como será que essa viagem realmente mudou a gente por dentro? Será que vamos conseguir aplicar nossas descobertas na velha rotina, nos velhos lugares, com as velhas relações?

Espero que a resposta seja positiva, afinal de que terá valido esse ano de aventuras?

POR ONDE PASSAMOS

A jornada começou em abril de 2018, no Japão. Para chegar lá fizemos escala em Paris, e o vôo de conexão atrasou um dia inteiro por conta de uma greve (ah, os franceses....). Chegamos em Tóquio e passamos no total 30 dias no país do sol nascente. Foi muito corrido, e visitamos praticamente o país inteiro de norte a sul! Passamos em Tóquio, Saitama, Aomori, Hirosaki, Sapporo, Nagano, Matsumoto, Obuse, Shirakawa-go, Takayama, Fukuoka, Hiroshima, Hofu, Okayama, Kurashiki, Kyoto, Shiga, Osaka, Nara, Himeji, Kobe, Fujiyoshida, Kawaguchi. Ufa!

Partimos em seguida para Kuala Lumpur, onde passamos 10 dias, e de lá para Malaca, George Town, Langkawi. Ao invés de seguirmos para a Tailândia dali, vimos que as monções iriam começar em quase todos os países do Sudeste Asiático, levando muita chuva, e por conta disso descemos de volta a Kuala Lumpur para pegarmos um vôo para a Indonésia, onde o clima estava melhor.

Foram 5 dias em uma Jakarta sem nada para fazer por causa do Ramadã, depois alguns dias em Yogyakarta, Malang, e de lá pegamos um ônibus de 19 horas até Bali, onde ficamos mais de 2 semanas no total! Retornamos para Jakarta, e de lá para Kuala Lumpur - foram 2 dias inteiros em aeroporto, lembrem-se de não fazer isso.

Ficamos uma semana inteira numa região periférica (Shah Alam), descansando. Depois voltamos a George Town por alguns dias e de lá subimos de trem até Bangkok!

Passamos 39 dias em Bangkok. Em seguida fomos para Ayutthaya e Sukhothai, onde passamos duas noites em cada, e depois fomos para Chiang Mai, onde passamos duas semanas. De lá passamos duas noites em Chiang Rai e tocamos para o Laos, de ônibus.

Chegando no Laos pegamos um longo ônibus noturno até uma ponte quebrada onde conhecemos um grupo de gringos e com eles rachamos um tuk-tuk até Luang Prabang, onde ficamos por uma semana. Depois fomos pelas estradinhas estreitas até Vang Vieng e Vientiane.

Cruzamos a fronteira de volta para a Tailândia e descemos de trem novamente até Bangkok, onde ficamos mais uma semana planejando as próximas etapas da viagem.

Terminamos nosso roteiro tailandês com uma semana nas praias de Krabi e Phi Phi Islands. Em Phuket passamos uma noite e pegamos o avião para o Vietnã.

No Vietnã chegamos em Ho Chi Minh City (Saigon), no sul do país. Compramos um pacote multi-trechos de ônibus, e visitamos também Da Lat, Da Nang, Hoi An, Hue e Hanoi. Decidimos não visitar Ha Long Bay e ficamos uma semana em Tam Coc, na região de Ninh Binh. De volta a Hanoi pegamos um vôo para Hong Kong.

Passamos uma semana em Hong Kong, com o objetivo de tirar o visto para a China - na verdade o visto sai rápido, dependendo das condições pode até sair no mesmo dia, mas não sabíamos disso. De Hong Kong compramos todos os bilhetes de trem e fizemos todas as reservas de hotéis e guest houses na China - o que foi ótimo porque a internet na China é bem complicada.

Entramos na China por terra, indo de trem bala a partir de Hong Kong. Passamos por Guangzhou, Yangshuo, Xingping, Guilin, Zhangjiajie, Changsha, Huangsha, Tunxi, Hangzhou, Xangai, Suzhou e Pequim. Em Pequim embarcamos no trem expresso Transmongol - que pega uma ramificação da ferrovia Transiberiana - e descemos em Ulaanbaatar, na Mongólia.

Passamos duas semanas lá descansando e planejando os últimos meses de viagem. Fizemos um pernoite num ger dentro do parque Gorkhi-Terelj, próximo à capital. A partir dali seguimos com o Expresso Transmongol em uma viagem de 4 dias até Moscou.

Foram 6 dias na capital russa, em seguida um trem noturno nos levou a São Petersburgo, onde passamos 3 dias.

A partir dali seguimos para a Europa, entrando pela “porta dos fundos”, isto é, pelo leste, e por ali circulamos muito de ônibus.

Entramos nos Países Bálticos pela Estônia, onde ficamos 3 dias em Talinn, seguindo dali para Riga, na Letônia, e por fim para Vilnius, na Lituânia, passando mais 5 dias em cada. Seguimos para a Polônia, passando 5 dias em Varsóvia, e mais 8 dias em Cracóvia. Depois fomos para a Hungria, ficando 8 dias em Budapeste, e de lá para Belgrado, na Sérvia, por 4 dias, e entramos na Romênia.

Um pernoite em Timisoara, e seguimos de trem para Sighisoara por 3 noites, depois 3 dias em Brasov e mais 4 dias em Bucareste. Pegamos um ônibus noturno até Sofia, onde passamos mais 4 noites, e ali pegamos um avião para Londres.

Chegamos na capital britânica dispostos a economizar ao máximo, mas surpreendentemente chegamos nessa etapa da viagem com mais dinheiro do que achávamos que teríamos, então fizemos uma “extravagância” e fomos para a Escócia, de ônibus, onde passamos 4 dias em Edimburgo e 1 dia em Glasgow. Depois de 19 dias no Reino Unido retornamos ao Brasil, saindo de Londres e chegando... no Rio de Janeiro! De lá pegamos um último ônibus noturno até São Paulo, onde finalmente nossa aventura terminou, em abril de 2019.

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Agradecimentos

Essa viagem não teria sido possível sem a ajuda de muitas pessoas! Em primeiro lugar, minha COMPANHEIRONA Fê Matsu (@fematsu), sempre ao meu lado em todas as horas.

A ajuda da Camila Rasga (@camila_rasga) durante a preparação e planejamento da viagem foi essencial para termos coragem e sabermos que iria dar tudo certo.

Os carinhosos japoneses Junko, Reina, Keigo, Asumi, Kanchan, Tooki, Yuki, Tatsuya, Noriko, Tomo, Yurika, Keichi, que nos ajudaram, acolheram e guiaram por esse país magnífico.

A maravilhosa Liz, britânica insider de Bali, dona do Puri Sawah (@purisawahtirtagangga) em Karangasem; o casal espanhol Manolo e Clara, que compartilharam suas experiências de mochilão quando ainda estávamos no início da aventura; Payzinha, a querida e animada hostess do hostel MGray de Bangkok; o casal fantástico Eduardo (@eduviero) e Mônica (@monicamoras), que através de seu blog EDUARDO E MÔNICA nos inspiraram tanto por todo o sudeste asiático.

Também agradecemos a Taivnaa (@yutakammmm), a gentil gerente do hostel H7 de Ulaanbaatar que foi uma ótima companhia e arranjou pernoite nos gers no parque Gorkhi-Terelj. Aos nossos companheiros Naara, Orhom, Simba e sua gangue, e Kevin, que fizeram da travessia da Transiberiana uma experiência humana inesquecível.

O Leste Europeu não teria sido o mesmo sem a companhia do Goran e seus amigos, na Sérvia, e do PH e Cacá que foram nos visitar por um final de semana na Hungria, mesmo morando na Suíça.

Carolzinha (@ca_akemi / Passaporte Para o Mundo) e Klaus, que nos encontraram por duas vezes durante essa viagem, primeiro no início, em Tóquio, e depois, no final, acolheram em seu apartamento em Londres por quase três semanas!

Aos nossos pais, amigos e familiares, que nos apoiaram e torceram pelo sucesso de nossa jornada mesmo de longe.

Por fim, tantas pessoas com quem cruzamos e que não sabemos o nome, como a moça do hostel de Sukhothai que nos ajudou com o ônibus, a tia do Hotel Manon de Chiang Mai, do tiozinho simpático do guest house de Hoi An, cuja simplicidade, alegria e espírito vão ficar pra sempre em nossa memória.